terça-feira, 31 de outubro de 2017

Céu da Boca

Acredite se quiser, a Doca nasceu no dia primeiro de abril. O ano: 1962. O lugar é o celeiro da boa música brasileira: Minas Gerais, cidade de Nanuque. Diz-se que Nanuque é uma das últimas chances de ser mineiro, visto que fica tão perto da Bahia (Nova Viçosa) e ao mesmo tempo tão perto do Espírito Santo (Montanha). Porém, circunstâncias fazem com que seus pais viajem para Brasília, nos tempos de Juscelino em que a cidade mal acabara de nascer. O pai, pastor batista, vive em Brasília com a família até o ano de 1970, quando eles se transferem para Belém do Pará onde se ministra o curso de Bacharel em Teologia do Seminário Equatorial. Curiosamente, dá-se aí a primeira experiência de Doca com o estúdio: a gravação do coral de crianças (filhos dos alunos do seminário), um "compacto simples" rotação 33 o qual "desapareceu no mundo", segundo a Doca sem ela nunca ter visto a cor. A música já era cristã, talvez no estilo mais tradicional que os anos 60 vivenciavam no ambiente evangélico brasileiro. Foi por aí que as notas vieram. Depois os acordes, as apresentações e, mais tarde, uma vocação incomum para o canto e a harmonização. Diz-se que nas igrejas batistas tradicionais, a harmonia vocal já nasce com a pessoa. É quase cem por cento correto. No caso de Doca, foi assim, inclusive com seu irmão (hoje, o maestro Heron Duarte). Nessas alturas, o encontro com Jesus já havia acontecido, e a música era para Doca um dos principais veículos de comunicação com Deus. Mas a Doca é mineira e jamais deixará de sê-lo. Na pré-adolescência, ela volta à sua cidade natal, Nanuque, onde se identifica com suas raízes culturais, justamente naquele clima fronteiriço, perto do mar de Nova Viçosa e as montanhas do Espírito Santo. A música vem da fazenda e tem a ver com modas de viola (vocês já ouviram lá na mata a cantoria / da passarada quando vai anoitecer...). No final dos anos 70, surgem o Boca Livre e o 14 Bis, que fazem exatamente o tipo de harmonia vocal com que a Doca tanto se identifica. É bem nessa época que ela volta pra Brasília. Neste ponto, percebe-se na Doca a influência musical de lugares diversos frutos de uma existência andarilha cujos detalhes (as andanças pelo país) não chegam a ser contados aqui. A experiência de cantar já é bem maior. Sua voz tem personalidade, ainda que jovem e as atuações musicais acontecem - a maior parte delas em coros em que se executam cantatas que variam de Bach a Buryl Red. Num nível mais popular, surgem grupos vocais que se fazem e desfazem com a rapidez do vento. No meio desse vendaval cultural, algo marcante é o lançamento do LP "De Vento em Popa", dos Vencedores por Cristo, um verdadeiro banho de MPB no meio cristão evangélico, recebido de braços abertos pelos jovens da época. Num nível mais comprometido, a dupla com a amiga Míriam - duas vozes e um violão - o violão era com a Miriam.

Em janeiro de 1980, conhece Zazo, que ouviu o dueto Miriam & Doca. Zazo se apaixona pela voz de Doca. Mais tarde, não só pela voz. Em 81, as aulas de música com o maestro David Junker, na Faculdade Teológica vêm fornecer a ela uma boa dose de técnica vocal, postura, exercícios e bagagem. Doca se casa com Zazo em 1983. No mesmo ano, formam um grupo de característica "voz e violão", com o nome Louvor Ilimitado - algo semelhante ao Cantares, embora não tão ousado nos arranjos. De 1986 a 1988, a Doca participa do grupo Cântaro ao lado de Zazo. O Cântaro chega a lançar uma fita intitulada "Princípio", a qual, posteriormente, acaba sendo prensada e virando disco. Em 1992, tempo em que tanto o Louvor Ilimitado quanto o Cântaro já haviam "falecido", tudo parecia convergir para o momento em que os músicos cristãos "penduram as chuteiras". Mas é justo aí que surge um intercâmbio de músicas e experiências vocais com Marco e Denize.

Zazo:
Na certidão de nascimento de Zazo consta a expressão “nascido no Distrito Federal”. É que em 15 de abril de 1960, o Rio de Janeiro vivia seus últimos dias de DF. O pai coloca-lhe o nome bíblico de Eleazar (Deus ajudou), mas a irmã Eliane, na época com dois anos, não consegue pronunciar e diz “Zazo”, apelido familiar que vai marcar sua trajetória pra sempre. O ambiente em casa é extremamente musical. O pai toca piano nos cultos da Igreja Batista em Acari, subúrbio carioca. A mãe vive a cantarolar hinos tradicionais, às vezes assobiando, às vezes exagerando nas fermatas. A infância em Coelho Neto é regada a peladas de rua, campeonatos de botão, bandeirinha e muita música. O pai tem “encontro marcado com o jazz” toda quarta-feira pela Rádio MEC, às nove da noite, e faz questão que Zazo ouça jazz e blues. Naquela mesma época, extinta Abril Cultural publicava a coleção “Grandes Compositores da Música Universal”, apresentando Tchaikowsky, Beethoven, Chopin, e por aí vai. Ouvindo concertos de Vivaldi para flauta e orquestra, Zazo aprende a assobiar, inclusive imitando o trinado daquele instrumento. Isto acontece em 1968, ano turbulento em que a ditadura militar promulga o AI-5. São tempos de Geraldo Vandré e Taiguara nos festivais, tumultos nas ruas e “soldados armados, amados ou não” nas praças.

Os anos 70, iniciados com o clima da vitória do Brasil na Copa do México trazem dias de paz armada. Enquanto o povo evita falar de política, Chico Buarque usa o pseudônimo Julinho de Adelaide para deixar nas emissoras de rádio suas mensagens de duplo sentido contra o governo militar. Enquanto isso, a Igreja Batista em Acari começa a viver um período musical efervescente. O que hoje seria tido como superado na época é de extrema importância na formação musical da geração de Zazo: a cantata jovem “Boas Novas” e “Celebração”, os LPs dos Vencedores por Cristo – “Se Eu Fosse Contar” e “Louvor”. Todas essas iniciativas musicais têm peso enorme na vida de Zazo, que aos 16 anos decide aprender violão com a única motivação de superar a enorme timidez que quase o impede de se relacionar com as pessoas. O aprendizado do violão acontece de forma não acadêmica – no colégio, com os rapazes mais velhos no fim da rua, com as revistinhas Vigu e informações visuais, isto é, olhando o que os outros fazem. Surge uma parceria com o amigo Robinson, dois anos mais velho, amante da Bossa Nova. É o momento dos acordes dissonantes, motivo de orgulho de todo jovem ou adolescente que soubesse executá-los. Movidos por essa “onda” (ainda que não aceita por quem não fosse músico), Zazo e Robinson montam uma parceria, compõem algumas canções e formam com outros dois adolescentes o grupo GREM (Gregory, Robinson, Eleazar e Márcio).

Em 1978, superada mais da metade da timidez, Zazo passa no concurso da Escola de Especialistas de Aeronáutica, em Guaratinguetá, ficando naquela cidade nos anos de 78 e 79. Em 1980, vem para Brasília, onde se vê acolhido em família pela Igreja Batista Central de Taguatinga. É ali que conhece Doca, que na época formava dupla musical com a amiga Miriam. Zazo, Doca, Miriam, Hélio e Léa (irmãos de Miriam) formam um grupo vocal interessante, com arranjos feitos nas cordas do violão. A amizade de Zazo com Doca cresce e nunca mais se desfaz. Em 1983, eles se casam e passam a freqüentar os cultos da Terceira Igreja Batista do Plano Piloto, onde formam o grupo vocal “Louvor Ilimitado”, algo sem formação fixa (daí o nome Ilimitado). Em 1984, Zazo apresenta a peça “O Jovem José”, composta por ele desde 1978, em Guaratinguetá, até 1983, em Brasília, baseada na vida de José do Egito.

Em 85, surge o Grupo Cântaro, do qual Zazo e Doca vão fazer parte durante praticamente todo o tempo de existência (85 a 90). Por essa época, os músicos evangélicos estão “a mil” e realizam a primeira e (um ano depois) a segunda Mostra de Música Popular Cristã de Brasília – momento em que músicos de valor mostram a cara. Gente como Ely Lima, Quico Fagundes, Rodrigo Bueno, Gláucia e Rogério (que vieram a formar o Estilo de Vida), João Inácio e Ranúzia, além de vários outros, a maioria deles acompanhada pela emergente Orquestra Cristã de Brasília, sob a regência de Joel Barbosa. É no ano de 86 que acontece a maior experiência de Zazo, a entrega definitiva de sua vida ao Senhor, apesar de todo tempo de igreja que precedera esse momento. O Cântaro apresenta um trabalho marcado pela brasilidade, com arranjos vocais e instrumentais ousados para a época, apresentando-se inclusive em espaços seculares como a Sala Funarte, Villa Lobos, Teatro de Arena da UnB e Parkshopping, além de locais semelhantes em São Paulo, Belém, Rio, Goiânia, etc, chegando a fazer uma viagem pelos EUA. No entanto, crises internas e dívidas levam o grupo a se desfazer.

O final do Cântaro é um período marcante na vida de Zazo, em que Deus atua de forma maravilhosa. A canção O Jogo é pra Valer gravada no CD Coisas de Amigo pelo Céu na Boca corresponde a esse período, em que a vontade é de tocar violão só por entretenimento. O volume de composições – que nunca chegou a ser grande – diminui. Momento de parar e refletir. “Coincidentemente”, esse momento é compartilhado com Marco e Denize, que já faziam parte da vida de Zazo e Doca anteriormente. Coisa de amigo.

Marco Fernando:
Nascido em 21 de janeiro de 1964 - exatamente o ano do golpe militar que marcou a história recente do Brasil - Marco Fernando cresceu ao som das influências rítmicas de sua cidade natal, Recife. Desde menino, já se observava nele algum senso crítico que o levava a repudiar as formas de manipulação e de uso do meio de comunicação musical para “emburrecimento nacional”. Era afeito mais às letras. Lia poetas e textos da biblioteca particular de sua mãe, professora de línguas de origem latina, e se embevecia com eles. Amava as rimas ricas e as “pedras no caminho”. Seus pais ouviam os “hits” da época, principalmente, Roberto Carlos. Pela óbvia diferença entre o que pensava/lia e aquilo que ouvia, sua aproximação com a música só ocorreu alguns anos mais tarde ao deparar-se com uma “bolacha” que tocava uma coletânea de Chico Buarque de Holanda. Foi uma espécie de revelação: “a música poderia ser usada para se dizer alguma coisa importante!”. Já aos catorze anos, idade em que começa a compor com seu tio Horácio, Marco vai atrás do não óbvio e encontra uma veia latente de letrista. Ganha alguns prêmios como letrista em festivais que sua mãe considerava inadequados para sua idade. “Nunca fui, só ficava sabendo”. Ganha prêmio de compositor revelação no Estado de Pernambuco ainda fedelho: “não fui à premiação, acho que tinha aula, meu tio trouxe o diploma pra mim”. Entretanto, fortes mudanças estão em andamento. Aos quinze anos entrega sua vida a Jesus, recebendo-o como seu Senhor e Salvador. Não poderia haver melhor hora para começar a compor. Assim, os elementos que já existiam em sua consciência artística vão se juntando a uma fé que cresce a cada dia. “Motivos reais para compor nunca me faltaram”, decalara.

No início dos anos 80, com amigos do meio cristão, entre eles o compositor e músico pernambucano Leon Neto, forma, em Recife, o grupo vocal Adelphos (amigo em grego). O grupo marcaria época na cidade. Nesse momento começa a se aperfeiçoar como instrumentista e músico: “nunca fui muito longe, mas, harmonicamente, dá pro gasto”. A criatividade sempre foi o seu forte, e orgulha-se de saber trabalhar sob pressão e a pedidos de amigos: “já fiz músicas pra casamentos, nascimentos de filhos e bodas de papelão”, brinca.

Em 1983, Marco se transfere para Brasília, onde conhece Denize, tecladista de formação clássica e uma belíssima voz. Da amizade ao namoro, do namoro ao casamento, em 5 de agosto de 1989. Marco compõe e executa no violão; Denize interpreta na voz e/ou nos teclados. Mais tarde, eles formam o grupo Cantares, uma formação de cinco vozes femininas, das quais a de Denize é uma. No Cantares, os dois atuam como arranjadores. O Marco, além de arranjador faz violão base, e o grupo é essencialmente vocal. Em 1992, o grupo Cantares pára de atuar. Marco, porém, tem muitas composições, e o desejo de continuar trabalhando com a música ainda é imenso. É quando começa um novo intercâmbio com amigos antigos, dos anos 80 - Zazo e Doca. Esse intercâmbio é uma semente que vai germinar em 1997, com a formação do grupo Céu na Boca.

Denize Menezes:
O Rio de Janeiro é o pano de fundo para os primeiros dez anos da vida de Denize. Após o seu nascimento, em 1965, a família Lopes vive na capital da antiga Guanabara até o ano de 1975, quando se transfere para a capital federal. Os tempos de Rio, porém, são marcantes. As idas com a família à Primeira Igreja Batista, na rua Frei Caneca, onde se realizam seus primeiros solos vocais, ainda aos quatro anos; as aulas de piano clássico, aos oito. Começa na infância a formação musical. No início, muita partitura, o estilo tradicional. Mais tarde, Beethoven, Chopin, compositores e temas eruditos. Tal influência vai ficar marcada na musicalidade de Denize, em especial no perfeccionismo que ela irá desenvolver no trabalho com o popular. A adolescência em Brasília traz novas influências no que diz respeito a composição e encadeamento harmônico, a começar por Tom Jobim e Chico Buarque, pela valorização dos acordes dissonantes. Aos 18 anos, vê surgir no meio cristão evangélico brasileiro figuras do porte de Sérgio Pimenta, com o Grupo Semente, em São Paulo; Quarteto Vida, em Belo Horizonte; e, no Distrito Federal, anos mais tarde, um jovem autodidata, Joel Barbosa, que vai se tornar o maestro da Orquestra Cristã de Brasília. O fim dos anos 80 corre com certa efervescência musical no meio evangélico da cidade. Ao mesmo tempo em que Denize cultiva a influência do Dr. Albano e seus grupos corais, como “Mensageiro da Paz” e “Coro Jovem" da Igreja Memorial Batista, os jovens trocam figurinhas aqui e ali, além de formarem grupos, principalmente vocais, apresentando composições próprias ou arranjos novos para antigas canções. Denize participa desse rodízio, cantando num trio formado por Rodrigo Bueno, participando das “cantorias” na Igreja Memorial Batista e das serenatas de acampamentos. Nessa altura, como pianista, já começa a substituir as tradicionais partituras por leituras de acordes cifrados. Em 1986, surge o grupo Cântaro, do qual ela vem fazer parte na primeira fase (o grupo passou por umas três). Nesse período, já conhecia o Marco, com quem vai se casar em 89. Marco e Denize formam uma interação imperdível de “voz-violão-piano-arranjo”, algo indescritível, inseparável. Surge o grupo Cantares, onde essa tétrade vai se expressar de forma marcante para os felizardos que conseguem ouvir as apresentações do grupo em Brasília e Anápolis. Com o fim do Cântaro (no início de 91) e do Cantares (92), surgem Zazo e Doca, amigos antigos, que chamam Denize para um trio cujo único objetivo é o de atender a uma necessidade específica: cantar num casamento. Os três chegam a se apresentar “uma vez na vida outra na morte”, isto é, sempre no casamento de alguém. A composição de sempre é “A Quarta Estação” (música de Zazo e letra de Raul Jr). Tudo isso é material para o que ainda está por vir anos mais tarde. Em 1997, com a entrada de Marco no vocal do antigo “trio esporádico”, temos o rascunho básico do Céu na Boca.

Jerry:
Jeremias Gaspar, o nosso Jerry, nasceu no Rio de Janeiro, em 28 de julho de 1968, de cara para a Avenida Brasil, no Hospital de Bonsucesso. A infância no Rio mistura diversão com trabalho. Afinal, toda criança precisa de entretenimento, mas algumas precisam ajudar no sustento da casa. Foi assim com o Jerry, que desde pequeno já adquiria experiências como virador*.

As influências musicais, que se originam também daquela época, são as mais diversas. Em primeiro lugar, os pais, que dão a ele e aos seus irmãos as primeiras noções de violão, craviola (12 cordas), pandeiro e até acordeon! A mãe de Jerry guarda, desde aquela época, partituras de hinos antigos que nem mesmo a Harpa Cristã tem. Isto faz daqueles dias um tempo de muita cantoria com os filhos, criando-se no ambiente doméstico uma atmosfera constantemente musical. Além disso, rolam os cultos domésticos, a rádio Boas Novas, a Rádio Relógio Federal e a indefectível vitrola ligada o dia quase todo, ao som de Oséias de Paula, Shirley Carvalhaes e a dupla Edson & Telma. Mais tarde, o irmão mais velho, que toca numa banda em sua adolescência, traz outros elepês para a agulha da vitrola, as grandes novidades da época: Grupo Elo, Som Maior e Vencedores por Cristo.

Mas algumas influências vêm de fora, especialmente de um boteco em frente à casa da família. Ali, a vitrola toca dia e noite as canções de Bebeto, Jorge Bem (que na época não era Benjor), Bezerra da Silva, Benito de Paula, Fuscão Preto e outros. Jerry revela hoje acreditar que seu ecletismo musical tenha origem nesse boteco. A influência musical definitiva, no entanto, vem mesmo de dentro de casa, principalmente nos cultos domésticos semanais. O grupo musical "feito em casa" tem a seguinte formação: o pai (violão e voz), a mãe (back vocal), o mano Israel (violão e voz), e Jerry (violão, voz, pandeiro, afunxé e outros instrumentos percussivos), com participação dos outros irmãos.

Aos 18 anos (1986), o Virador vem para Brasília, com um sentimento de que a Capital Federal seria sua terra prometida. E foi. A vida brasiliense de Jerry começa na Assembléia de Deus da L-2 Sul (611). Ali ele conhece Lea. No final de 89, ele se transfere para a Igreja Nova Vida (412 Norte), onde é recebido com carinho pelo Bispo Antônio Costa. Jerry conta que houve, naquela época "um ano de tratamento espiritual", algo muito útil na vida de um servo de Deus. Tempo de ficar calado e ouvir, somente ouvir... De lá pra cá, os ministérios vêm surgindo, com prioridade à edificação de vidas: louvor e trabalho com os jovens. Em 92, casa-se com Lea. Dessa união, nasce em 96 Vitor Micael, e em 98, Davi Lucas.

Em 97, Marco Fernando e Denize fazem uma proposta ao Jerry: juntar-se a eles, ao Zazo e à Doca e ser o quinto elemento* de um grupo vocal ainda sem nome com o objetivo de gravar um CD de música popular brasileira evangélica – composições do próprio grupo.

Marcus Americo:
Vem de Niterói, RJ, o nosso Marcus Américo, nascido em 04 de março de 1967. O ambiente em casa traz um pano de fundo musical. A mãe passa a maior parte do tempo cantando. O pai canta na noite, em casas noturnas. O nome Marcus Américo lhe soa tão bem que é este seu nome artístico. A mãe, D. Geni, que freqüenta igreja evangélica, cria o filho por esse caminho, o que lhe confere um conhecimento de Deus no estilo Timóteo, jovem discípulo do apóstolo Paulo, nos primeiros anos da era cristã. Mas a decisão de andar com Deus, aquela individual, acontece aos nove anos de idade. Ronaldo, o irmão mais velho, exerce uma influência enorme sobre Américo, influência essa que se perpetua até os dias de hoje. “Deus fez de meu irmão um homem de muita sabedoria”, diz o nosso violonista. Aos oito aos, porém, seu contato com o violão já havia iniciado. À semelhança de Denize no teclado, Américo começa no violão clássico – mais tarde, aos onze anos. Seus pais queriam fazer dele um virtuose no instrumento (conseguiram). Marcus chega a estudar com o professor Ricardo Wagner e, já na adolescência, cultiva admiração por monstros da MPB, como Ivan Lins, Toquinho e – posteriormente – Djavan. Na segunda metade dos anos 80, surgem também compositores cristãos de peso, no cenário evangélico brasileiro, que irão marcar a trajetória de Américo, entre os quais podemos citar Sérgio Pimenta (sua maior influência tanto em termos de letra como em harmonia), além de João Alexandre e Jorge Camargo. Nesse período, Américo vive em Brasília, embora nunca tivesse contato com Marco e Denize, mas vem conhecer Zazo e Doca que, naquela altura, faziam parte do Cântaro. É tempo de João Alexandre, Sérgio Pimenta, Mostra de Música (com a Orquestra Cristã de Brasília nascendo); por esses dias, os LPs “De Vento em Popa” e “Tanto Amor” já haviam deixado suas marcas na harmonização de Marcus. Américo atua com o Cântaro, como baixista (outra de suas especialidades). Já havia participado em outras três bandas (Chuva Serodia, Selo do Sol e Outras Tribos). No fim desse período, ele conhece Celinha. Os dois se casam e vão viver em Recife. Mais tarde, mudam-se para Juiz de Fora. O aprendizado musical nessas duas cidades é intenso. A passagem por elas vai refinar o estilo “marcoamericano”, primeiro pelo contato com os ritmos e a criatividade próprios do nordeste. Depois, em Minas, pelo contato com músicos da mais alta qualidade que por ali passam, visto que Juiz de Fora é um corredor musical quase que obrigatório para artistas que fazem a rota Belo Horizonte – Rio – São Paulo. É também ali que Américo estuda harmonia funcional, com o baixista Dudu Lima. Mas o tempo em Juiz de Fora é também um momento de intercâmbio, em que Marcus chega a compor canções de estilos os mais variados, chegando até ao rock’n’roll e aos temas mais “loucos” que só os roqueiros da transição 80/90 conhecem. As aulas com Dudu Lima, no entanto, acrescentam-lhe muitos aspectos. É quando sua versatilidade como arranjador, compositor (e até mesmo como intérprete) ganha novos ares, novos acordes e amplia a expressão de sua música. Já nos anos 90, vez por outra, faz uma visitinha a Brasília, tipo uma vez por ano, e aproveita para rever os amigos antigos, entre os quais Zazo e Doca. Numa dessas visitinhas, os dois levam Américo à casa de Marco e Denize, que se apaixonam pela musicalidade, virtuosismo e harmonias do músico. Começam a surgir trocas, idéias, coisas de amigo. Em 1998, vendo que o campo de trabalho se tornava cada vez mais difícil em Juiz de Fora, Marcus e Celinha voltam para Brasília. Américo se junta ao Céu na Boca.

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